O BICUDO BELEKO – só faltava falar

03/04/2015 23:04

Aloísio Pacini Tostes
Bonfim Paulista – Ribeirão Preto
www.lagopas.com.br - multiplicar para conservar

Contei a história do Beleléo em outro texto. Pois bem, ele veio para a Lagopas por uma casualidade, já que neste criadouro sempre o foco foi bicudo de fibra. Tentamos desde muito tempo atrás trazer tudo que havia de histórico diferenciado nesse mister. De forma alguma, agregaríamos algum pássaro porque ouvimos falar, só nos interessava aqueles houvesse evidentesconstatações ou que presenciássemos respectivas performances. Lógico que foi nossa intenção, também, trazer pássaros com viés de alta repetição com objetivo de suposto de mixar fibra com repetição. Mexemos com bicudos desde 1958 e nessa vivência tudo que pudemos juntar como raiz dos melhores bicudos que já existiram, trouxemos para a Lagopas, isto é não focamos nossos trabalhos em um ou outro bicudo em detrimento ao histórico de sucesso de muitos outros, evidentemente.
Ora, nosso objetivo é: “bicudo fibra com retomada rápida e repetição”. A tarefa é de conseguir bicudos de alto desempenho na roda, boa retomada e fundamentalmente buscar aquele que não arrega, aquele que não afina, que não pia frio ou chama fêmea, como também aquele que não trava e para de cantar na hora do “torra”, depois que se rearruma a roda naquela muvuca do mexe-mexe para preparação da final. Isso é fatal para o sucesso de uma criação, levar um “já vai” é duro demais. Portanto, tem-se que ter o máximo cuidado com as matrizes, macho e fêmea, pois se não forem do ramo podem gerar bichos de falsa fibra.
A peleja é grande nesse sentido, tentamos então, procurar os que de melhor se apresentavam dentro de nossas restritas possibilidades e conhecimento. Conseguimos assim, reunir um plantel onde estavam os ícones: Balinha Veio filho do Balinha (campeoníssimo dos anos 70) , Zepretinho – pai de Escurinho, Anjinho, Pérola Negra – Robozinho (campeoníssimo dos anos 80); Raoni (campeoníssimo dos anos 80), Bequibá filho de Jequitibá (campeoníssimo dos anos 90); Balela (filho de Capitã Gancho altíssima repetição); Beká (Jk x Luiza Brunet, alta repetição) Estaca e Estica Filhas do Estilingue (Pai do Maradona, Branquinho e Vera cruz - campeoníssimos dos anos 80); Paiakan (campeoníssimo dos anos 90 no DF); Barpeão, filho do Peão; Blitize Filho do Ministro com Dezessete, tudo isso sem falar da maioria das fêmeas sobre as quais tivemos o mesmo cuidado na seleção para a fibra.
Embora tivéssemos toda essa preocupação, havíamos produzido poucas excelências. Ora, sabe-se que essa questão de genética e hereditariedade é muito complexa e não quer dizer que pássaro campeão irá gerar filhos com a mesma qualidade ou com o mesmo desempenho. Estávamos nessa labuta, agindo com objetivo de produzir campeões, mesmo assim ficava a sensação de estarmos malhando
em ferro frio. Fomos em frente nessa batalha mas sentíamos que faltava algo, não tínhamos ainda um padrão, uma marca em nossos filhotes.
Mesmo assim, vínhamos com esse trabalho incessante e com muita determinação, tendo presente que os resultados nem sempre atenderam as melhores expectativas, mas não podíamos esmorecer, era manter o foco e não desistir. Mesmo nesse prisma, não fugimos de nossos propósitos e continuamos e selecionar exigentemente todas as aquisições para compor o plantel reprodutor. Aos poucos fomos cruzando essa base entre si com objetivo de chegar ao padrão almejado. Sabíamos que estávamos numa direção certa, não tínhamos pressa, nosso projeto era de longo prazo, a base estava sendo montada aos poucos, gradativamente.
De forma alguma ficávamos olhando apenas para o próprio umbigo – um risco grande de ficar ultrapassado – fazíamos muitas reflexões, daí sentíamos que ainda faltava a “cereja do bolo”, algo que trouxesse o nosso diferencial. Aí, veio através do grande amigo José Carlos Gradela a cessão do Bicudo Beleléo, de forma fortuita, mas valeu demais. Tentamos colocá-lo na roda, teve um bom desempenho, nunca arregou mas lhe faltava explosão na final. Ficamos, então pensando se daria certo cruzá-lo com uma de nossas fêmeas de muita fibra. O que havia nos despertado positivamente nesta raça e para nossa surpresa, foi que por volta do ano de 2004 pudemos perceber a espetacular atuação do bicudo Tubarão também “Latino x Querência” irmão inteiro do Beleléo, que supostamente, para nós, provinha de linhagem de bicudos de canto.
Criamos coragem e fomos na intuição o bicho era muito atipado, resolvemos cruzar primeiramente com a Zebra (Beká X Zequinha – filha do Zepretinho x Bailarina) foram duas vezes. Isso, como experiência, nasceu na primeira somente uma fêmea na segunda um casal em 20.12.2007. Colocamos todos juntos num gaiolão com outros da mesma idade. Depois de algum tempo lá estavam bem mansinhos e comportados. Aí, foi chegando o final de setembro, início da primavera época do acasalamento na natureza, por pura casualidade nos aproximamos do gaiolão onde estavam os jovens bicudos quando nos deparamos com uma cena inusitada, dois deles brigando, um dentro do comedouro todo machucado sangrando em volta dos olhos e do bico e outro bem maior levando vantagem na peleja, pura sorte, se não fôssemos lá naquele momento iria a óbito,
Separamos a briga e pegamos o menor todo arrebentado na mão, dando “quem-quem” e trincando de fogo, pusemos ele numa gaiola ao lado, começou a cantar incessantemente. Ficamos espantados pela atitude dele pois diante da situação deveria estar, ao contrário, corrido e amuado. Ficou o alerta, “esse bicho é diferenciado”, vamos cuidar bem dele, “vai dar samba”. Ficamos surpresos pela suposta qualidade e separamos também as duas irmãs dele e as colocamos nas gaiolas
criadeiras. Continuando num clima do inesperado, elas abriram com nove meses e botaram em seguida, isto é, com dez meses já estavam com filhotes, uma notória precocidade. Com o nome de Lebra (APT-476) e Leza (a irmã de ninho anilha APT-500), são hoje matrizes top da Lagopas, o macho com anilha APT-501.
Bem, separado dos outros e todo depenado, passamos a cuidar dele com um carinho especial, a expectativa era grande, “será que esse é o cara”? E assim foi, ficou preto de uma vez, já com dois anos de idade, colocamos o apelido de Beleko nele inspirado no “Bele” do pai e no “K” do avô materno. Acasalamos o bicho com uma fêmea “meia boca” até cega de um olho, ele não aceitou outra. Com uma curta mexida levamos direto para torneios “Alta Mogiana”, nas primeiras vezes classificou para a final e nós o retiramos da roda para preservá-lo por ele estar muito novo e ainda um tanto espantado com aquela aglomeração de gente.
E assim foi até que o colocamos na roda COBRAP em Ribeirão Preto SP, onde se classificou entre os 30, estava cantando muito na classificatória e diminuindo muito na final, após a mexida na roda e aquele povão com os marcadores e fios por perto das gaiolas. Em seguida fomos ao torneio nacional em Dourados MS, lá do mesmo jeito ficou entre os 20 primeiros. O problema foi a volta, infelizmente tivemos um acidente na estrada, nosso auto capotou conosco e os pássaros dentro. No momento, nossa preocupação foi só com os pássaros. Ainda bem que não aconteceu nada de grave, apenas danos materiais e também pela ajuda de nosso amigo Geraldo Amadeu que nos socorreu, levou e acudiu todos os pássaros na sua casa em Araçatuba e lá recompôs as gaiolas amarrou com fita crepe, isso tudo depois da meia noite daquele domingo.
Lá pelas três da manhã, chegamos em sua casa de taxi, tomamos um ótimo café e viemos de volta para Ribeirão Preto, saindo pelas quatro horas daquela segunda feira num carro alugado. Depois de toda essa muvuca, nós com o moral meio abalado pelo susto, preocupados com os bicudos, mas aliviados por estar ilesos e bem de saúde. Na viagem, quando o dia estava clareando, escutamos o Beleko cantar, por incrível que pareça. Veio cantando até chegar em casa lá pelas oito horas. Sentido, retirado do carro à luz de lanterna, pego na mão, gaiola toda amassada, quebrada e ainda de fogo. Estava meio fofo dando “quem-quem” zangado e mas continuava cantando. Sentimos que aquele comportamento era coisa de campeão.
Daí, encerrada a temporada de 2009, iniciados em janeiro os torneios de verão de 2010, fomos primeiramente em Nova Odessa, num torneio regional onde estavam uns 80 bicudos, Beleko ganhou seu primeiro torneio, uma grande alegria para nós, conseguimos...ufa. Em seguida fomos a Brasília, segundo lugar outra bela apresentação. Então, o irmão Celso Neves entrou na fita: “quero esse bicudo, gostei dele”. Fizemos o rolo, e assim o bichão foi morar na capital federal. Já sabendo da qualidade evidente do BELEKO, passamos um pardinho, irmão inteiro um ano mais novo, por nome RICSON, para o amigo Paulo Alves “Pola” de Medina MG.
Em Brasília, morando numa chácara, BELEKO fugiu por três vezes, uma foi para o brejo de depois voltou e ficou cantando no fio de luz antes de voltar para a gaiola, na outra ficou o dia inteiro sumido e a tardezinha apareceu dando uma trombada no vitrô, ficou desfalecido e logo se recuperou, a última voou em volta da casa e logo foi pego. Acertou casal com uma ótima fêmea e a mexida do mano Celso Neves o BELEKO, começou sua trajetória de campeão que foi do Brasil Central em 2010 e 2011, com mais de 100 pontos na frente do segundo colocado.
Vários primeiros lugares em e muitos outros na cabeça (até quinto lugar). Assim foi, assombrando todos, lá no DF e Goiás, nos anos 2010 e 2011, na maioria dos torneios só dava ele. Celso conta que BELEKO, ainda por cima era interativo, respondia olhando para um lado e para o outro quando se falava com ele, gostava muito de passear de carro desencapado no banco da frente, interagindo, cantando e dando “quem-quem” o tempo todo, além disso apreciava ir no barzinho do “Vinte Um” na prática de “tomar umas” do Mano, quase todos os dias.
E assim foi, até mudar para o Lago Norte numa casa nova, Celso preparou um lugar especial para o BEKELO, sol direto, um gaiolão de 120 cms super protegido das intempéries. Pedreiros reformando a casa para deixá-la nos trinques. Aí, veio a notícia de um deles: “Sô Celso, tem uma gaiola caída dentro da piscina”, não deu outra, eram cinco postados na borda da piscina tomando sol, a do campeão estava lá dentro d’água, com ele dentro. BELEKO foi a óbito dessa forma trágica.
O que dizer? Celso passou quase três horas com ele desfalecido no peito, assim prostrado como se estivesse em transe. Depois disso, precisou tomar quase dois litros de whisky, quando alguns amigos chegaram para passar a “inhaca”. Realmente uma fatalidade a que todos estamos expostos, não há o que fazer apenas lamentar. Uma carreira curta, pois agora é que deveria estar aí mostrando suas qualidades, estaria com oito anos, no auge de sua forma, dele ficou apenas a lembrança.
Nós da Lagopas ficamos tão triste quanto o Mano Celso Neves, a sofrência foi igual, ainda mais que soubemos que o RICSON também tinha morrido comido por um gavião. Muito azar junto. No entanto, desistir jamais. Beleléo e Zebra estão ainda
produtivos, isso nos deu a condição de produzir mais dessa raça. Sim, nasceu BELEZÉ, rebatizado para BBZÃO que já está em Brasília, com Celso, parecidíssimo com o Campeão, “rei morto, rei posto”, quem sabe seguirá a bela trajetória do irmão mais velho. E assim vamos, ainda bem que a vida se renova, e vida que segue!!!
Veja BELEKO: https://www.youtube.com/watch?v=UJ6zZZVhOjI
Veja o BELEZÉ autal BBZÃO:https://www.youtube.com/watch?v=w4G9-0_eroA